
Ministro Chikoti fala dos desafios de Àfrica
O ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, considerou hoje, em Roma, que o futuro do continente africano está na criação de “Estados capazes” de adoptarem uma visão clara e definida de desenvolvimento e de transformação.O chefe da diplomacia angolana fez esta observação durante a sua intervenção na primeira Conferência Ministerial Itália-África, inaugurada pelo Presidente da Itália, Sergio Mattarella, com a participação de 52 delegações de Estados africanos.
Na opinião do ministro, esta mudança exige o envolvimento de todos os actores nacionais e internacionais, bem como reflectir sobre como fazer convergir e integrar os países africanos no ciclo virtuoso do crescimento.
Segundo Georges Chikoti, que interveio no painel I sobre sustentabilidade económica, “a resposta consiste na implementação da Nova Parceria para o Desenvolvimento Africano (NEPAD), da Agenda 2063 e da Agenda 2030 que sintetizam as aspirações dos cidadãos e Governos africanos para os próximos cinquenta anos”.
Chikoti resumiu em oito pontos os desafios dos Estados africanos, para além das responsabilidades políticas, na área económica e social, nomeadamente “conceber e aplicar estratégias de desenvolvimento sustentado a longo prazo; investir, prioritariamente, nos sectores sociais e eliminar as desigualdades de género, a todos os níveis”.
Outros desafios são, na sua óptica, “assegurar a estabilidade macro-económica, tendo em consideração as condições iniciais de cada país; impulsionar a criação de um ambiente propício ao investimento produtivo privado, quer seja nacional, africano ou estrangeiro; promover um padrão equitativo de distribuição do rendimento, da riqueza e das oportunidades, bem como fortalecer um desenvolvimento regional equilibrado e justo”.
O governante angolano considera ainda como repto dos Estados africanos o fomento e a criação de mercados onde não existam e assegurar o funcionamento eficiente das forças de mercado, de acordo com certos parâmetros, que dependem do desenvolvimento de cada país e assegurar actividades que o mercado não garante, sempre que os custos e benefícios sociais o imponham.
O encaminhamento de investimentos para sectores prioritários, de forma a garantir uma afectação eficaz de recursos, a nível nacional e a nível regional, é outro ponto defendido por Chikoti.
O ministro preconiza ainda que a inclusão social e as questões de sustentabilidade são a chave para o futuro do continente, requerendo para o efeito fortes investimentos na área da educação, num continente que continuará a crescer demograficamente até 2030.
Os constrangimentos que restringem o processo de desenvolvimento do continente africano, explicou, estão relacionados com o elevado índice de pobreza e de exclusão social, a falta de infra-estruturas, o elevado nível de ineficiência relativamente aos serviços prestados nos diferentes sectores que se verifica em muitos países africanos, que vivem em condições de grande fragilidade.
Acrescentou que, apesar das dificuldades, a África teve um crescimento económico notável no início deste século, cujo desempenho foi influenciado por vários factores como a boa governação, adopção de políticas orientadas para a melhoria da qualidade das instituições, e do bem-estar das populações, sendo a alta dos preços das matérias-primas o impulsionador desse crescimento para os países exportadores de comodities.
Recordou que nos últimos dois anos a situação nos países exportadores de matérias-primas alterou-se significativamente com a baixa dos preços desses bens nos mercados internacionais, o que afectou o equilíbrio das suas balanças comerciais.
O governante angolano concluiu que, face às dificuldades orçamentais, os países africanos estão a reverter o actual quadro de crise, adoptando políticas e acções concretas destinadas à diversificação das suas economias.
Por seu lado, o Presidente da República ao inaugurar os trabalhos da conferência chamou à atenção dos presentes para os "desafios comuns", como o fenómeno da migração, crescimento e a luta contra a corrupção.
O estadista italiano recordou que “a Itália é pela sua condição geográfica, histórica e cultural, uma ponte entre África e a Europa, livres de preconceitos e prontos para um diálogo pragmático e aberto”, sendo a estabilidade do continente africano uma prioridade para a União Europeia.
Para Sergio Mattarella, "a migração em massa representa para o continente africano a mais dolorosa desapropriação do futuro dos tempos que correm. Milhões de pessoas que fogem empobrecem as sociedades africanas e condicionam o seu desenvolvimento”.
Nesta senda, defendeu a necessidade de adopção de estratégias distantes da lógica simplista de responder ao fenómeno da migração com a construção de muros e barreiras, apelando a “uma abordagem abrangente e durável” do assunto.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Itália, Paolo Gentiloni, sublinhou o papel de liderança que o seu país pretende assumir nas suas relações com o continente africano.
A Conferência, que ocorrerá a cada 2 anos, enquadra-se no âmbito da nova visão da política italiana para a África, lançada em 2014 pelo presidente do Partido Democrático (PD) e primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi.
Os participantes ao evento de um dia abordaram, em 4 painéis, temas como “sustentabilidade económica-Itália-África, os desafios para um crescimento comum”, “sustentabilidade social e ambiental-ambiente e desenvolvimento social. Agenda 2030, e uma nova abordagem integrada” e “sustentabilidade do fenómeno migratório - para um novo modelo de diálogo”, “paz e segurança - peace keeping, peace building e ownership Africana”.
0 Comentários